“Sobre o uso indevido de Salmos 33.12”, por Alonso Gonçalves

Nesses dias o que mais se vê é gente usando o texto bíblico de Salmos 33.12 na sua primeira parte que diz: “feliz é a nação cujo Deus é o Senhor”. A segunda parte do versículo é esquecida, propositadamente ou não. Com isso, querem dizer que uma “nação” que tem “Deus” como o Senhor é feliz, logo, o versículo vira “cabo eleitoral”.

Que nação é essa do versículo? É a brasileira? Deus quer uma nação para ele? Para todas as perguntas é um sonoro não!O texto de Salmos 33.12 está falando da nação de Israel e não de qualquer outra nação, muito menos a brasileira. A segunda parte do versículo diz: “cujo povo ele escolheu para lhe pertencer!”. Que povo ele escolheu para lhe pertencer? Israel! Não outro povo. Isso porque esse povo, Israel, não era lá essas coisas (Deuteronômio 7.7-8). Assim, Salmos 33.12 está se referindo, exclusivamente, ao povo de Israel dentro da aliança que Yahweh fez com ele. Não é de longe outra nação que o texto está se referindo, muito menos o Brasil.

Alguém pode dizer: “Mas isso é no sentido de ser abençoado por Deus uma nação que tem ele como Senhor”. Pois é, outro equívoco. Nada que uma boa teologia bíblica da igreja não resolva.

A igreja tem uma função que está acima de qualquer governo ou autoridade política. Isso ela tem porque foi o próprio Cristo que assim o fez. Em Efésios 1.21-23 é dito: “Agora ele está muito acima de qualquer governante, autoridade, poder, líder ou qualquer outro nome não apenas neste mundo, mas também no futuro. Deus submeteu todas as coisas à autoridade de Cristo e o fez cabeça de tudo, para o bem da igreja. E a igreja é seu corpo; ela é preenchida e completada por Cristo, que enche consigo mesmo todas as coisas em toda parte”. Logo, é a igreja, por meio de Cristo, que assume a função de continuar o ministério de Cristo. Ele é o Senhor de tudo. E como Senhor de tudo, ele escolhe a igreja para preencher todas as partes. Isso significa que a igreja não pode ser de uma nação! Isso significa que a igreja não pode participar do poder, porque ela tem no Cristo alguém que está acima de qualquer ordem política nesse mundo! Entendeu?

Para deixar mais claro ainda. As funções do Israel bíblico, o Novo Testamento entende que cabe à igreja ser a continuidade. Não mais por meio de um único povo, uma única nação, mas todos os povos. 1 Pedro 2.9 é muito claro: “Vocês, porém, são povo escolhido, reino de sacerdotes, nação santa, propriedade exclusiva de Deus. Assim, vocês podem mostrar às pessoas como é admirável aquele que os chamou das trevas para sua maravilhosa luz”. A igreja é multiétnica. Ela não tem nacionalidade. Antes é o ajuntamento de todas as cores, de todas as pessoas. O povo escolhido é a igreja. O sacerdócio de Deus é o povo dele, a igreja. Esse povo é propriedade exclusiva de Deus, não um país, não uma nação!

Não é por acaso, que a igreja quando diante do Cordeiro será assim: “Depois disso, vi uma imensa multidão, grande demais para ser contada, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro. Usavam vestes brancas e seguravam ramos de palmeiras” (Apocalipse 7.9).

O Brasil não será uma “nação” cristã! E ainda bem que não. Porque Deus já tem a sua nação, a igreja, composta de todas as pessoas que proclamam o Evangelho de Jesus Cristo!

Quem fica por aí citando Salmos 33.12 como se fosse para o Brasil de hoje, usando o texto como cabo eleitoral, está cometendo um duplo erro: o texto é para o povo/nação de Israel; e cabe à igreja (nova aliança) ser o ajuntamento de muitas nações.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *