O filme “O Último Vagão” apresenta uma emocionante história que gira em torno de um garoto chamado Ikal. A história aborda temas como amizade, superação de desafios e é atravessado pela importância da educação escolar.
Refletir sobre a frase icônica “Ser ou Não Ser?” tornou-se uma questão que vem pesando os travesseiros que sustentam subjetivamente as cabeças dos diversos professores e professoras do Brasil. Nos dias atuais, “Ser” se transformou em sinônimo de conviver com angústias que permeiam os corpos e desorientam as almas dos profissionais da educação. Por outro lado, o “Não Ser” se tornou alimento para a lógica do perigo iminente de “apagão” ou colapso devido à escassez de professores na educação básica até o ano de 2040, conforme projeção divulgada pelo Instituto Semesp em 29/09/2022.
Diante deste cenário preocupante, o filme “O Último Vagão” emerge como uma poderosa ferramenta de reflexão sobre o papel fundamental dos professores e professoras na construção de uma sociedade, especialmente na formação das gerações futuras. Essa obra desafia-nos a lançar um chamado incisivo e provocador aos legisladores e líderes políticos. É hora de refletir intensamente sobre a importância vital dos profissionais da educação e assumir a responsabilidade política de proteger e valorizar essa profissão essencial. Estamos diante de desafios sociais e educacionais urgentes, e é nos corredores do poder que as decisões que moldarão o futuro da educação serão tomadas.
A responsabilidade política é inegável e exige ação imediata. Os legisladores têm o dever de escolher o caminho que beneficiará não apenas os profissionais da educação, mas também as gerações futuras. É necessário romper com a inércia e tomar medidas concretas para transformar o sistema educacional. Não podemos permitir que a educação seja negligenciada ou tratada como um mero jogo político. É preciso abandonar discursos vazios e assumir compromissos concretos com a educação, investindo recursos e promovendo políticas que valorizem verdadeiramente os profissionais que estão na linha de frente. Chegou o momento de transformar as palavras em ações efetivas. Os legisladores e líderes políticos têm o poder de mudar o destino da educação e, consequentemente, da nossa sociedade como um todo. Que eles sejam provocados pelo filme “O Último Vagão” a agir com coragem, determinação e visão de futuro, assumindo a responsabilidade política de construir um sistema educacional verdadeiramente justo e inclusivo. O futuro de nossa nação depende disso.
Assim, é crucial lembrar, também, que as pessoas escolhem uma profissão com o objetivo de encontrar um lugar na sociedade, algo que pode ser comparado à corrida diária em direção à sala de aula. Para os estudantes, pode ser sinônimo de rotina e obrigação, mas para nós, professores, é uma métrica histórica repleta de lembranças e anos de histórias, fatos, atos e almas tocadas pelas letras escritas na lousa branca.
Por isso, devemos sempre se lembrar do arquiteto rebelde da educação, Paulo Freire, o mestre que desafiava as convenções com sua visão audaciosa. Para ele, a educação era mais do que um simples despejo de informações; era uma sinfonia de diálogos, reflexões e metamorfoses sociais. Como um alquimista pedagógico, Freire convocava os estudantes a desvendar os mistérios de sua própria realidade e a erguerem-se de forma desafiadora diante dela. Com esse agir, Freire trazia consigo as chaves do conhecimento, desbloqueando as mentes aprisionadas e libertando-as para a construção coletiva do saber.
Nesse palco educacional, é imprescindível ressaltar o impacto do livro “Nascidos na Era Digital”, de John Palfrey e Urs Gasser, lançado em 2011. Como um espelho caleidoscópico, a obra retrata a geração atual imersa em uma transição tecnológica avassaladora. Os jovens, condutores principais desse turbilhão digital, navegam nas correntezas das redes sociais, mas também enfrentam as armadilhas sombrias, como o cyberbullying e outros desafios inerentes ao ambiente digital. No entanto, de forma paradoxal, esse universo virtual coexiste com as estruturas sólidas e analógicas das escolas, mesmo após a pandemia do COVID-19 ter deixado seu rastro de ensinamentos e forçado a adoção do ensino remoto.
O filme “O Último Vagão” e o livro “Nascidos na Era Digital” retratam duas realidades sociais distintas, mas convergem na problemática do abandono das escolas. Essas obras nos incitam a abrir os olhos e compreender a complexidade do trabalho dos professores, que precisam enfrentar constantemente desafios sociais, adaptando-se às mudanças e em algumas situações abruptas, lutar para garantir uma educação de qualidade, ao mesmo tempo, que anseiam pelo reconhecimento profissional e melhores condições para exercerem seu trabalho de forma plena.
Enquanto para muitos a vida segue seu curso na lógica do existir, para os professores e professoras a essência transcende o mero viver. Eles são os arquitetos do espírito, os alquimistas da transformação, cuja missão é tocar as almas dos estudantes. E nesse encontro sublime, somam-se energias, entrelaçam-se trajetórias e dá-se vida a um universo profundo e fecundo, emergindo do fluir dos corpos e das almas que nele habitam.
Como magos da educação, os professores desafiam o tempo e o espaço, abrindo portais para novos horizontes de conhecimento e possibilidades. Eles são guardiões dos sonhos, cultivadores de saberes e da esperança. Com suas palavras e gestos, plantam sementes de sabedoria, nutrem a curiosidade e acendem a chama do pensamento crítico, ou simplesmente, artesãos de mentes inquietas.
Por fim, assim como é gratificante encontrar alguém que nos faz enxergar nossa própria história. Da mesma forma, foi prazeroso ver o filme “O Último Vagão”, pois trouxe à mente lembranças das diversas professoras que transformaram minha vida. Por isso, mesmo diante dos desafios e das dificuldades que permeiam a escolha de “Ser” professor, opto por seguir nessa profissão, pois me orgulho da possibilidade de tocar almas e semear o bem, renovando constantemente o sonho de construir uma sociedade mais saudável e harmoniosa.
Continuarei ciente de que, “Ser” professor é ingressar em um universo repleto de desafios e exigências, uma jornada que requer uma dedicação incansável. No entanto, a recompensa é simplesmente incomparável: a certeza de que estamos causando um impacto significativo na vida de alguém. Nessa trilha que demanda um compromisso além dos limites, que transcende os horários e se estende para além das quatro paredes da sala de aula, confiamos plenamente em nossa capacidade de moldar mentes e tocar corações, de influenciar vidas de forma profundamente positiva.
A cada encontro com um ex-aluno, sentimos que estamos cumprindo nossa missão de forma excepcional. É esse sentimento que nos impulsiona a seguir em frente, mesmo diante das circunstâncias mais desafiadoras. Compreendemos que nosso papel vai além de transmitir conhecimento, é sobre inspirar, orientar e encorajar cada indivíduo que passa por nossas mãos. Portanto, seguimos adiante, com coragem e determinação, convictos de que estamos deixando uma marca indelével na vida daqueles que passam por nossa tutela. Somos gratos e lutamos por melhores condições de trabalho, cientes do privilégio de fazer das jornadas de descobertas e crescimento, sabendo que estamos contribuindo para um futuro mais promissor do país. E é esse sentimento de realização e propósito que nos impulsiona a seguir em frente, inspirando gerações e construindo um mundo melhor através da educação.