“Contra o risco de um Novo Fim”, por Jil Soares

A antropocena tem sido um dos maiores desafios para o Homem na agoridade, e sua corrida contra o tempo, que tem se apresentado cada vez mais fugaz na tentativa de reverter e amenizar os danos dos impactos causados por suas ações e interações ambiciosas com a exploração do próprio Homem, através dos agenciamentos do sistema escravagista- etnocida e da Natureza, com os impactos ambientais por intermédio da mineração e desmatamento desenfreado por meio do ecocídio, na criacão de programas com forte apelo de conscientização global acerca das iminentes Mudanças Climáticas, Escassez dos Recursos Naturais, Crise Migratória, Êxodo Climático, Crise Sanitária, Superpovoamento, Crise Alimentar, etc. todos eles embalados pelo viés publicitário das políticas públicas advindas da sociedade estamental – verniz capitalista do green money.

Dessa maneira, como manteremos a fé distante da Ironia (suspensão teológica?), assistindo e sendo coparticipantes em tempo real da crescente Revolução 4.0 no cenário das automações industriais e de um novo modelo de poder – a Algocracia?!

Segundo o economista francês Daniel Cohen que diz:

Até o século XVIII, a humanidade dependeu do Sol e mais modestamente da água e do vento como fonte de energia. Tudo mudou em seguida, segundo o prêmio Nobel de química, Paul Crutzen , que resumiu a evolução em andamento como uma emergência da “antropocena”: a passagem de um mundo dominado pela natureza, para um mundo dominado pelo Homem. (Daniel Cohen – A Prosperidade do Vício – Uma Viagem Inquieta pela Economia, 2009).

A partir dessa provocação, como não pensar criticamente acerca da atual problemática de um dos maiores territórios de terras indígenas Yanomamis e todo o seu Patrimônio Ancestral, localizado no rio Uraricoera, considerado o coração da Amazônia, com sua nascente que faz fronteira com a Venezuela, chegando até Boa Vista em Roraima, que vive sobre constantes ameaças por parte do garimpo ilegal? A extensa área conta com mais de quarenta e três pontos de atividades garimpeiras. Uma guerra que tem se intensificado há mais de cinquenta anos, tendo seu início na década de 1970, por meio da Ditadura Militar, através do RADAM – Radar na Amazônia, projeto sobre coleta de dados de recursos minerais, solos, vegetação, uso da terra e cartografia da Amazônia, culminando em inventários dos materiais existentes.

O mapeamento financiado e executado pela ditadura, proliferou nos “canibais do ouro” (homem branco), com a concessão do “eufemismo legal” a cupidez voraz para explorar inconsequentemente os solos amazônicos e todo território de pertenças ancestrais dos povos Yanomamis. Com a instalação de uma pista de pouso aberta em 1986, pelo então Ministério da Aeronáutica, foi o ponto alto que culminou e deflagrou o boom da ilegalidade, pois o novo empreendimento publicizado pelo invólucro das “ideias de progresso”, fornecia acesso direto à cinquenta garimpos no interior da floresta. Vale destacar que toda esta ação ecocida e etnocida, partiu e ainda acontece por conta da influência direta dos generais políticos e da elite empresarial sobre a Província Minerária – a disputada floresta Amazônica.

Em entrevista concedida ao jornal “El País” em 22 de junho de 2021, o então escritor, ator, xamã e líder político yanomami, Davi Kopenawa, afirma e reitera sobre a real situação dos povos Yanomamis na floresta amazônica: “Nossos territórios foram invadidos pela ditadura militar e hoje, isso tudo está se repetindo, a lógica se perpetua no decorado pensamento europeu, que chegou, tomou a terra e extraiu minérios “, conclui.

A imagem que se desenha é de um céu sem lei nesta “quarta corrida do ouro”, e a fé nos experimentos Xapiris (guardiões invisíveis das florestas, espíritos nos quais os ancestrais animais dos povos Yanomami se transformaram.) é a flecha irreversível no Tempo e o presente é o seu ponto de referência para que a esperança de uma justiça aconteça, não somente pelo viés da reparação e tão pouco mediada por tribunais do Poder Judiciário contra o início de um novo fim.

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