“A desumanidade dos humanos e a tragédia dos Yanomami”, por Daiane Marques

Os brancos possuem um desejo desmedido pelas mercadorias e, se pudessem escutar outras palavras que não as relacionadas a essa mercadoria, não teriam tanta gana de comer nossa floresta (Davi Kopenawa)

Nos últimos dias nos deparamos com notícias e imagens que chocaram o Brasil e o mundo: adultos e crianças indígenas em estado grave de desnutrição e com doenças como malária e verminoses. Vimos ainda denúncias de violência sexual, ameaças de morte, conflitos armados e devastação do meio ambiente. Tudo isso vem acontecendo com o povo Yanomami que há tempos clama por cuidado, mas é silenciado ou ignorado.

Yanõmami thëpë, significa “seres humanos”. E como presenciar nossos semelhantes passando por isso? Como aceitar a desumanidade de um governo que foi genocida? Como aceitar que tenhamos vivido anos de governo devotado a destruir os povos originários? Como admitir uma política nacional a favor dos garimpeiros ilegais e desfavorável aos indígenas e ao próprio ambiente?

Este povo vive no território entre Brasil e Venezuela, entre os rios Amazonas e Rio Negro. Falam línguas da mesma família (Yanomae, Yanõmami, Sanima e Ninam). A população é composta de mais de 30 mil indígenas em 228 comunidades. Omama é o criador da origem e das regras da sociedade e da cultura, assim como a criação dos espíritos auxiliares dos pajés: os xapiripë

Por anos essa população vem sofrendo com assassinatos, invasões, explorações ilegais e danos ao patrimônio. O avanço do garimpo ilegal de ouro e cassiterita e a omissão, parcial ou total de autoridades do governo Jair Bolsonaro, são as principais causas desses fatos assustadores. O ex-presidente durante seu mandato ora se absteve ora se mostrava a favor da legalização da mineração nas terras dos povos indígenas. 

A Terra Indígena Yanomami é o maior território indígena do país, com mais de 10 milhões de hectares. Os garimpeiros utilizam mercúrio para separar o ouro de outros sedimentos, o que é altamente tóxico e contamina os rios e os peixes. Mulheres e crianças também sofrem com estupro. Segundo denúncias, cerca de 30 jovens Yanomami engravidaram de garimpeiros (conferir). Ademais, fazendeiros cobram pedágio de indígenas para passar por suas terras. 

A saúde está em colapso, e muitas crianças estão extremamente magras, com quadros de desnutrição e de verminose, além de dezenas de indivíduos com sintomas de malária. Estão doentes devido à contaminação dos rios e à destruição das florestas, de modo que os adultos não conseguem buscar alimentos, o que impacta mais ainda a vida dos mais fragilizados.

Os povos indígenas sofrem com a violência colonial desde 1500 e quem acompanha suas lutas diárias recebe notícias do quanto essas brutalidades ainda persistem. O fundo governo destinou para missões evangélicas recursos que seriam destinados ao cuidado dos povos indígenas. Os milhões de reais retirados da saúde indígena e desviados para atividades proselitistas como a Missão Evangélica Caiuá, bem como o garimpo ilegal poluindo o solo e os rios tornou possível a tragédia Yanomami.

Após tanta tristeza e maldade, esperamos que a humanidade volte a fazer parte da nossa rotina a partir desse novo governo de Lula. Que os povos originários possam ter finalmente seus direitos respeitados. E que possamos aprender com fatos cruéis como este, um retrato do que a falta de responsabilidade é capaz de fazer com todos nós. Porque assim como os Yanõmami thëpë, somos todos seres humanos.     

Fontes:

https://www.camara.leg.br/noticias/898328-terra-yanomami-e-palco-de-tragedia-humanitaria-dizem-especialistas/

https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Yanomami 

https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2023/02/03/governo-federal-diz-que-apura-denuncia-de-30-adolescentes-gravidas-de-garimpeiros-em-territorio-yanomami.ghtml

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