“Falando apaixonadamente”, por Priscilla dos Reis Ribeiro

Ok, ok, já sabemos que é o domingo da ressurreição. Vamos então partir do que está posto e fazer umas provocações acerca das mulheres que testemunharam e espalharam esta notícia? Este domingo, na percepção de quem calça as sandálias delas, é cheio de altos e baixos e tem duas coisas (porque essa mania de três pontos é de quem tem o pezinho na presbiteriana – entendedores entenderão). Na narrativa de Lucas, acho interessante observar que ao testemunhar do que viram e ouviram para os discípulos, elas foram rapidinho taxadas de loucas e tiveram suas palavras desacreditadas pelos companheiros que com elas caminharam por três anos.

Ora, três anos é tempo suficiente para perceber a índole de uma pessoa, seus hábitos, se dá pra confiar ou não; ainda mais se for aquela convivência de todos os dias, viagens, perrengues, situações extremas e acontecimentos impressionantes como a história que eles viveram. Mas, é aquilo: essa estratégia patriarcal de rotular uma mulher como mentalmente desequilibrada ou de má-fama, sexualmente falando, para descredibilizar sua fala, é bem antiga como você pode perceber. Duro, mas real.

Pois bem, imagina o misto de sentimentos: elas insistindo no que tinham acabado de testemunhar diante da atitude nem um pouco solidária dos companheiros. Já estava todo mundo à flor-da-pele, afinal de contas, deviam estar se perguntando se tinham algum motivo ainda para seguirem juntos, visto que o movimento foi brutalmente desarticulado com a crucificação que haviam presenciado um par de horas antes. Afinal de contas, punição exemplar bem ao jeitinho do gosto romano ditatorial é o tipo de coisa pensada para paralisar quem assiste, usando a ferramenta do horror para traumatizar MESMO. Tudo intencional.

Essas mulheres provavelmente estavam sem chão, avaliando como voltariam para a sua “vida real” após terem saído pelo mundo em viagem inconsequente, deixado seus familiares para trás, levando seus bens para sustentar um homem do subúrbio que pregava ensinamentos controversos, convivia com gente de péssima fama e não estava nem aí para o que a liderança religiosa dizia – na verdade Ele queria mesmo era explodir aquele sistema hipócrita.

Não bastasse isso, elas haviam peregrinado por vilas e cidades com um grupo de homens que não eram do seu núcleo familiar. Em outras palavras, que tipo de mulher fica saracoteando por aí pra cima e pra baixo, dormindo em qualquer lugar, permitindo que a preciosa fama de bela, recatada e do lar seja arrastada pela lama? Gente, isso na Palestina do século 1 é uma morte social horrível! Pare para pensar!

Porém, elas insistiram em testemunhar do que viram. Isso é notável e por isso, vou fazer desse o segundo aspecto que quero ressaltar. Quem me conhece sabe que sou teimosa: taurina, ascendente em Capricórnio, quatro planetas em Áries, enfim… brincadeiras astrológicas à parte, elas não se calaram diante da tentativa de silenciamento. A mensagem era muito maior… não adiantaria tentar matar o mensageiro, ou melhor, as mensageiras.

Aí está uma coisa que mexe demais comigo, minha gente: ser testemunha de um evento deste porte não te deixa outra opção a não ser falar, berrar, gesticular, “se virar” para fazer com que os outros saibam do fato. Se eu estivesse entre elas, tendo o temperamento que tenho, iria sacudir aqueles homens para que eles entendessem a intensidade do momento.

Quem se encontra com o Ressurreto não pode deixar de falar que a vida vence no final. Não pode. Ainda mais nesses tempos sombrios em que vivemos onde a banalização do mal, a coisificação das pessoas e o discurso violento viraram fatos corriqueiros, especialmente entre os “nossos” (entre aspas porque realmente tenho dúvida se são habitados pela Ruah que desde sempre gesta e amavelmente só faz parir toda vida e toda maravilhosidade que nos encanta).

Então, essas mulheres valentes, apesar das tentativas de silenciamento dentro do próprio grupo de companheiros, enfrentaram os vetos sociais e continuaram falando… falando apaixonadamente até que a notícia chegasse no Rio de Janeiro, século XXI. E eu, herdeira das que viram o grande amor de suas vidas sem amarras, estou aqui ecoando a fala delas. Sigo atenta e forte, usando essa ferramenta virtual aqui pra fazer a mesmíssima coisa que minhas ancestrais na fé fizeram: te dizer com o coração pegando fogo que ELE VIVE!

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