A igreja evangélica brasileira cedeu às três tentações a que Cristo foi submetido no deserto. A primeira foi a de usar seu poder em benefício próprio. Isso é o significado de transformar pedras em pães. A igreja cedeu ao perceber que a multidão que reunia representava um capital político extraordinário. O que fez, então? Usou-o para eleger uma bancada que defendesse seus interesses no parlamento. E mais: usou-o para barganhar com políticos, oferecendo apoio em troca de poder, perdão de dívidas previdenciárias, concessões de rádio e TV, etc. Ela foi ainda mais longe. Não apenas transformou pedras em pães, mas também transformou pão em pedra. A mensagem de amor, centro do evangelho pregado por Jesus, foi substituída por discurso de ódio. O que deveria alimentar multidões famintas, transformou-se em intolerância contra minorias.
Mas a tentação não parou aí. Percebendo-se no “pináculo do templo”, no auge de sua trajetória de crescimento, dobrou a aposta. Diferentemente de Jesus que se recusou a se lançar dali, a igreja evangélica se lançou com tudo em um apoio irrestrito a um candidato a quem chamou de “Mito”. Nenhum anjo foi enviado para amortecer a queda. Nenhuma promessa bíblica pinçada do contexto foi capaz de bancar o desatino.
Ela não apenas apostou sua credibilidade, como também aceitou se prostrar diante da perversidade de um homem, tratando-o como se fosse o próprio Deus. “Tudo isso te darei, se prostrado me adorares”, propôs Satanás a Jesus, mostrando-lhe os reinos deste mundo. Mas Jesus lhe respondeu: “Somente ao Senhor adorarás e só a Ele prestarás culto!” Quem dera esta mesma resposta fosse encontrada nos lábios dos líderes evangélicos fascinados pelo poder. Na busca por relevância, cederam à ganância. Na busca por hegemonia, cederam à intolerância. Ao abrirem mão de serem bancados exclusivamente pela graça, perderam tudo. Apostaram suas últimas fichas. A banca quebrou. Aparentemente, a igreja ganhou. Ganhou poder, projeção, mas perdeu a alma. A bancada evangélica se revelou a mais fisiologista de todos os tempos. O “messias” se revelou o mais insensível, mentiroso e corrupto de todos os presidentes que esta nação já teve. O escândalo das joias deveria fazer com que líderes evangélicos viessem a público pedindo perdão pelo apoio incondicional dado a Bolsonaro. Espero que aprendam de uma vez e nunca mais repitam o mesmo erro. O único Messias a que devemos lealdade é aquele no nome do qual Pedro disse ao paralítico que esmolava à porta do templo: “Não tenho ouro, nem prata, mas o que tenho te dou: em nome de Jesus Cristo, levanta-te e anda.”
Quanto tempo será necessário até que a igreja evangélica se erga novamente? Talvez, à exemplo do que ocorreu ao povo hebreu no deserto, seja necessário que toda esta geração passe e uma nova se levante comprometida exclusivamente com Jesus e o seu reino de amor e justiça, e não com uma agenda perversa de poder.