O Krisis nasceu de um grupo de estudos iniciado em 2013, ainda que com outro nome, mas onde já se desenhavam alguns interesses que perduram. A sua consolidação passou pela promoção de eventos, pesquisas, publicações, atividades de extensão e ensino, e que incluem temáticas da antropologia, filosofia e política articuladas em torno do interesse comum de problematização do presente. Com isso, muitos pesquisadores, professores e alunos contribuíram para as atividades do Krisis com suas mais diversas atuações.
Hoje o Krisis é coordenado pelos professores Delcides Marques e Gabriel Pugliese. Ele conta também com pesquisadores associados e alunos envolvidos em novos projetos de pesquisa e extensão. Além disso, o Krisis, também retoma uma atividade que havia sido deixada de lado nos últimos anos, mas que compreendemos como fundamental para a sua retomada: os grupos de estudo. Assim, o Krisis volta a ser um grupo de estudos atrelado a atividades de ensino, pesquisa e extensão. É variado tematicamente em termos de investigação, mas engloba seus membros em torno da tarefa crítica de problematização do presente.
A escolha pelo termo “krisis” para nomear o laboratório acaba por recuperar a origem etimológica comum de “crise” e “crítica”. O termo “krisis” é uma transliteração do vocábulo grego κρίσις cuja etimologia remonta ao verbo κρίνω. A expressão κρίσις recebe traduções gerais que passam por “julgamento”, “separação” e “decisão” e cujos usos mais recorrentes caminham ao menos em sete direções específicas: (1) “o julgamento realizado por um tribunal”; (2) “o desenlace do julgamento, sentença, escolha, condenação”; (3) “disputa, distinção, prova de habilidade ou força”; (4) “problema a ser decidido acerca de uma guerra”; (5) “ponto de viragem de uma doença, mudança repentina para melhor ou pior”; (6) “meio da coluna vertebral”; e (7) “explicação de um sonho” Na mesma direção temos o adjetivo κριτικός, -ή, -ον que se desdobrou de κρίνω e culminou em “crítico” e “crítica”. Em todo caso, resguardando a ideia de separar, decidir e avaliar, refere-se àquele que possui a capacidade de julgar como faculdade de discernimento e pensamento, mas pode também indicar a função de um juiz ou a fase crítica de uma doença
Portanto, Krisis no sentido de uma postura de separação em relação ao espírito do nosso tempo que possibilita um discernimento crítico capaz de colocar a atualidade em perspectiva. Com isso, essa decisão de separação é metodologicamente orientada pelo interesse na história e em outras culturas, pois esses domínios de alteridade produzem – através de uma apercepção sociológica – a capacidade de tornar-se contemporâneo à época da qual fazemos parte e colocá-la sob exame. Essa investigação, no entanto, não é nem jurídica e nem médica, pois não tem como propósito produzir um tribunal condenatório e tampouco curar uma doença. Ela é substancialmente antropológica, pois tem como objetivo compreender o que estamos fazendo de nós mesmos ou o que nós nos tornamos enquanto habitantes da Terra e reunidos em um mundo de coisas feitas e pensadas pelos seres humanos.
Em suma, fazer uma crítica do presente é o que nos interessa fundamentalmente, de modo que a teleologia do Krisis é ético-política. Somos marcados pelo compromisso que as ciências humanas universitárias assumem com a melhoria das condições plurais de existência na Terra, o que implica em uma intransigência com toda forma de poder e deferência por toda luta que se insurge.